Eles dizem que a escuridão foi provocada pela interrupção noturna do fornecimento de luz, que foi a noite que chegou. Uma escuridade densa, sombria, negrume. Uma atmosfera tão análoga ao limbo que encontro quando cerro os olhos, que abri-los é indiferente. É igualmente frio, tal como o chão que não tenho mais. As paredes à minha volta são a única consistência que me dá certeza de que ainda não foi desta, e só existem para me prender. Já não sei o que procuro na escuridão em que fui abandonada. Estou, simplesmente, a olhar-lhe nos olhos. Depois de devorar o brilho, a agonia fala-me, lentamente, enquanto controla a forma como respiro. Ponho as mãos no fogo em como estou deitada, encolhida; ao invés, sou empurrada para a frente de um espelho e é a agonia que me faz fitar o sol, de repente. E, só depois de parar de arder, encontro o bicho em que me tornei. O que ela me dá a engolir não é vontade de ser, é vontade de morrer.
Há cerca de uma semana, li uma frase, de autor anónimo, que descrevia de forma soberba o que é uma relação saudável:
Uma relação saudável mantém as portas e janelas abertas. Todo o ar circula e ninguém se sente preso. As relações prosperam neste ambiente. Mantém as tuas portas e as tuas janelas abertas. Se essa pessoa estiver destinada a ficar na tua vida, nenhuma porta ou janela a irão fazer sair.
Soberba, mas não absoluta.
Quando amas alguém, não existem portas nem janelas. Ponto. Não existe, sequer, um espaço onde essa pessoa terá de permanecer para provar que te ama. Quando amas alguém, os braços dela transformam-se em duas asas que necessitam, em primeiro lugar, de ter o infinito para voar. Ao contrário do que muitos concebem, amar é deixar ir.
Quando deixas ir quem amas, estás, mesmo sem te aperceberes, a enviar-lhe não só uma mensagem como também a ti próprio. Estás a dizer:
A tua felicidade foi o meu primeiro objetivo, desde o nosso começo. Continuo a querer lutar por isso. E mesmo que não seja ao meu lado, quero que sejas feliz contigo mesma e com alguém que, por força das circunstâncias, encontres no teu caminho. Acima de tudo, estarei a desejar-te nada além de amor. Estarei a rezar por ti e pelo teu sucesso. Serei forte o suficiente de modo a que a tua felicidade tenha um espaço maior no meu coração, tal como antes. Deixarei a tua felicidade preencher o vazio que iria sentir se não te amasse o suficiente para te deixar ir.
O amor que lhe estás a dar, está, simultaneamente, a curar-te.
Seria hipócrita dizer que deixar ir não custa, não magoa, não destrói. Arde, sim. Mas, quero que saibas que o que arde cura. E não quero que associes essa sensação ao amor. O amor é a única coisa no mundo que não causa dor. Amor não é vÃcio, amor não é obsessão, amor não é ciúme nem inveja, amor não é ferida.
Repito: O amor é a única coisa no mundo que não causa dor.
Chora. Tens todo o direito de gritar, mesmo em silêncio, contra a tua almofada. Esconde-te e isola-te. Foge, até. Enche-te de músicas que te relembram, sem parar, os momentos em que tudo estava bem, só para te voltares a encontrar em pedaços, sem ela. Alimenta-te da tua solidão. Estarás apenas a perder o teu tempo. Estarás, simplesmente, a adiar o que precisa de ser consertado: tu. Quando choras até perderes o fôlego, o alÃvio é real, mas momentâneo. Breve.
Tens de aceitar que não existem perdas. Ou ganhas ou aprendes. Ninguém é de ninguém e quando a deixares ir, aceita essa ida como um ganho. Relembras-te de que sempre te levantaste sozinha, de que sempre sorriste aos obstáculos sozinha, que não foi mais ninguém que os ultrapassou por ti. Ganhas a noção de que tu és, na verdade, a pessoa mais importante na tua vida. Sempre foste.
Aprendes a amar.
Deixa-a ir.
3:20 pm, sinto-me sozinha. Acho que perdi a ligação que tinha com os meus amigos. A última vez que os vi foi há três semanas atrás e recebo muitos comentários negativos devido a isso, mas trabalhar e estudar ocupa grande parte do meu tempo. Eu nem sequer gosto muito do meu trabalho, só que me pagam bem e eu preciso mesmo disso. Costumava pensar que não ia sair da minha cidade depois de acabar o secundário, mas agora sinto que não há razões para ficar. Não estou a gostar de viver este momento. E também já não me sinto feliz.
Esta mensagem foi-me enviada há uns dias, anonimamente, para o meu blogue no Tumblr (Madyves), na sequência de um momento exclusivo que dediquei aos meus seguidores para que eles abrissem os seus pensamentos e me dissessem o que lhes ia na mente naquela hora. A mensagem original está escrita em inglês, mas achei melhor traduzi-la. Se, por acaso, tiverem curiosidade em vê-la na Ãntegra, bem como a resposta que lhe dei no momento, cliquem aqui.
Para além de ter achado esta mensagem interessantÃssima, identifiquei-me imenso com ela. Fez-me passar por um turbilhão de sentimentos e pensamentos, simultaneamente, no espaço de um ou dois minutos em silêncio. Foi mesmo gratificante responder-lhe com o que me ia na mente e, sobretudo, no coração. Já estive no lugar daquela pessoa e, no fundo, acho que nunca vou deixar de estar. Mas, sabem que mais? Passado algum tempo a batalhar naquilo que somos e sentimos, acabamos por lidar com a situação muito melhor. Pinky promise!
Amigos serão amigos
Eu sei que o que mais nos magoa é afastarmo-nos daqueles que mais amamos, seja por que razão for. Por muita falta que eles nos façam, há que distinguir o que é um amigo verdadeiro daquele que não o é. Muitas vezes o que acontece é ficarmos a sofrer por alguém que não faz ideia disso nem se preocupa com o que pensamos. Nesse caso, o melhor é não desviar o sentido do que é melhor para nós. Não quero dizer que tenhamos de os deixar para trás, porque um verdadeiro amigo não o faria, mas definir novas prioridades no campo social é definitivamente o primeiro passo para o que te faz bem. Por outro lado, um amigo percebe, um amigo apoia, um amigo não desiste, muito menos te abandona só porque o trabalho te ocupa mais tempo do que desejas. No meu caso, não usei a desculpa de trabalhar e estudar me ocupar todo o tempo, porque sempre o soube gerir da melhor maneira; precisei de tempo para mim. E só esse tempo preenchia o resto do dia livre que tinha. Sempre que me convidavam para sair, recusava. Afastei-me do meu grupo de amigos para me encontrar a mim própria. Precisei de me distanciar de tudo para ganhar a minha própria voz, a minha própria identidade. Não foi algo fácil, demorou tempo, até porque acabei por o fazer um pouco mais tarde que o habitual. Com 18-19 anos, andava ainda à deriva, sem saber bem o que fazer da vida - ou como enfrentá-la sem medos.
Sinceramente, duvido que o teu grupo de amigos te condene pelo tempo que precisas para ti, para estudar, para trabalhar ou mesmo para estares com alguém especial para ti. Não digo que não lhes custe, porque, de certo modo, estás a trocá-los por algo que consideras mais especial que eles ou que te exige mais atenção do que aquela que lhes dás. Mas, como disse, amigos são amigos e não te deixarão por motivos desses.
Quando te sentires preparada, restabelece esse laço. Ou o que quer que aches que perdeste. Não tenho menor dúvida que vais sentir que nunca o perdeste. Foi isso que senti. Os amigos lutam uns pelos outros e nunca desistem de nós.
O dinheiro não é tudo
Sim, já sei! O dinheiro ajuda bastante, compra coisas que nos deixam felizes, realizados, como viagens, conhecimento, educação (apesar de achar que a educação que adquirimos por natureza, através do convÃvio com os outros e os valores a ela associados são os que mais importam), telemóveis topo de gama, entre outros. Mas não é tudo. É uma felicidade temporária. De certo modo, até viciante, porque acabamos por nunca nos sentir totalmente satisfeitos. Falta sempre algo.
No fundo, aquilo em que trabalhamos para obter esse dinheiro deveria ser a grande prioridade, e não o dinheiro que ganhamos ao fim do mês. Por outras palavras, muito mais sábias que as minhas, a felicidade está na jornada e não no destino; sendo a jornada uma metáfora para todos os obstáculos, as horas passadas a trabalhar e a sonhar no que queres atingir, todas as pessoas que conheces durante esse tempo, as memórias que crias e as coisas novas que aprendes, e o destino aquilo pelo qual sempre lutaste. Não vale a pena perderes o teu tempo a trabalhar em algo que não contribui nem para o crescimento das tuas unhas! Se te matas a trabalhar para chegar a casa e te sentires tão vazia por dentro como quando acordaste de manhã, o melhor é, mais uma vez, definires as tuas prioridades. Trabalhar em algo que tu não gostas é desgastante, é uma prisão, é uma fábrica de baixa autoestima, etc.
Brevemente irás perceber que o teu verdadeiro objetivo nesta vida é a tua felicidade e que é por ela que tens de lutar, seguindo sempre o teu coração - mesmo que aquilo em que trabalhas não seja o suficiente para te proporcionar uma vida desafogada. A tua felicidade vale a pena.
Procura lugares novos para estar
Mesmo que não estejas a passar por nenhum destes momentos crÃticos, nunca te prendas por nada nem ninguém para seguires os teus sonhos. É muito importante que conheças novos sÃtios, novas culturas e novas pessoas. Se não fizeres esta procura pelo novo, pelo desconhecido, nunca te vais deparar com ideias que refutam as tuas, com coisas pelas quais vale a pena discutir, com a luta de valores e direitos, ou até mesmo com o medo de não teres tempo de vida suficiente para conhecer todas essas coisas novas! Tenho uma professora na faculdade que gosta muito do usar a expressão «superem-se a vocês mesmos» para tudo e mais alguma coisa - cada vez mais tento seguir esse lema, porque descobri que ele não é apenas uma motivação para um fim, é mesmo o próprio fim. Ao superarmo-nos a nós próprios estamos não só a lutar por isso mesmo, como também a desejá-lo enquanto fim da viagem. E é ótimo, porque, dessa forma, não há maneira de pararmos. Parece que quanto mais nos superamos a nós próprios, mais queremos superar! Não há maneira de dizermos que estamos demasiado felizes, não há maneira de nos cansarmos de querer ser felizes. E isso, sim, é o que realmente importa.
P.S. - A conclusão mais provável a que vais chegar nesta procura pelo desconhecido é que dois braços e um coração vão ser o teu lugar preferido para estar.
P.S. - A conclusão mais provável a que vais chegar nesta procura pelo desconhecido é que dois braços e um coração vão ser o teu lugar preferido para estar.
Tirei esta foto quando estava sozinha na doca de Faro, no Algarve. Nunca gostei tanto de existir só para estar ali naquele momento. |
Não tem de haver razões para ficar. E se alguma vez precisares de razões para sair, olha-te a ti própria.
[Este texto pode estar redigido para um "ela", porque foi baseado na mensagem que o inspirou, mas foi pensado e direcionado para todos. Cada um é livre de o interpretar da maneira que quer.]